vida, trabalho, presentes, pesquisas realizadas

escorredouro

 
ensaio fotográfico/montagem: philipi bandeira
sinopse
Começo. Principio. Vazante de água parada, adormecida. Entorno. Derramo o líquido de um tempo vazio, fugidio. Escorro. Atravesso o leito da coragem, abro margem. Me movo, para mover em mim o que é natural do outro. Escorredouro fala da possibilidade de fluir. Fluir para amar, contrapondo aos tantos vazios estancados na solidez do mundo presente. Fala do inconsciente, da potência que se instaura no correr das águas do rio.


pesquisa, concepção e direção coreográfica: Thatiane Paiva | solo/intérprete criadora: Thatiane Paiva | pesquisas de movimento iniciadas com: com Bel Miranda, Jamille Morais, Maryanne Sales, Patrícia Crespí e Tayana Tavares | concepção visual, imagens e montagem: Philipi Bandeira e Thatiane Paiva | iluminação: Walter Façanha. 


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escorredouro 
thatiane paiva 

quando o que move em mim é do natural do outro.

Água, fluidez, imaginário, inconsciente, sobreposição dão a cor, o traço e o mote para a construção das imagens que se constroem e reconstroem na cena do Escorredouro.

Este trabalho potencializa alguns caminhos e diálogos possíveis entre linguagens e faz parte de uma tríade composta por três obras interdependentes, embora autônomas, onde se objetiva construir um limiar profundo e sutil de integração e expansão manifestativa. A tríade se faz da seguinte maneira: Escorredouro – O centro/A natureza (dança), apresenta-se neste momento de montagem como dança solo a ser desenvolvida para palco e outros espaços alternativos; Escorredouro – A Janela (videodança) é o desenvolvimento da pesquisa aliado às particularidades da linguagem de imagem e vídeo; é, portanto, o momento em que o trabalho se constituirá como videodança e; Escorredouro – A Oferenda (instalação) constituirá, ao final do processo de realização das outras obras, o ambiente no qual esses três trabalhos serão desvelados, resvalados de maneira mais plena, potencializando para além da cena o envolvimento com o público.

Dessa forma, a dança, corpo primeiro do escorredouro, traz a qualidade de movimento, a textura e o fluxo próprios da água que atravessa toda a tríade. Da movimentação processada em corpo, chega-se ao tempo em que se processará o escorredouro em vídeo, com perspectivas próprias da linguagem audiovisual, considerando seus fluxos, ritmos, possibilidades de atravessamentos com a dança; chegando-se, assim, na videodança.

A instalação, proposta como articuladora das linguagens desenvolvidas no processo, oferece à própria obra, e a todos que dela participam em formação, expansão, interferência, um ambiente de plenitude e vazão dos estados em movimento que se processam no entrelaçamento dos trabalhos, além de fazer com que novos possíveis de movimentação possam ser criados e recriados quando nesse estado d’água pudermos todos escorrer, sem distinção entre autor, obra, intérprete, público: a instalação é a oferenda, a dádiva compartilhada.

A ideia é potencializar essa ação de escorrimento possível entre obras, entre linguagens artísticas, entre imagens resvaladas que se atravessam.

A questão que aqui se fundamenta gira em torno do imaginário, evidenciado nas sobreposições de movimentação, nas possibilidades de imagens sobrepostas que se formam e se esvaiem nas cenas. Numa variação entre tempos rápidos e esgarçados, os vãos e brechas das imagens do corpo abrem espaço para novas construções, novos olhares e movimentações. Este universo dialoga efetivamente com a própria vida da autora, que transpõe suas questões para a pesquisa a partir do âmbito das imagens e do imaginário. Questões que giram em torno do tema do feminino, da expansão humana, da liberdade pela sutileza, da possibilidade de fluidez evidenciada com sua reaproximação com a dança depois de um intervalo de 10 anos sem dançar. Os insights de memória de sonhos e experiências vivenciadas na infância, em momentos fundamentais de sua vida, regem o escorredouro de sensações e estados de corpo presentes na obra. Há aqui, um pleno acordo de mudança. Uma necessidade de fluir num tempo em que a ordem da pressa e dos processos fixos opera. Uma necessidade de partilhar ambiente, corpo, movimentação em estados plenos, leves, mas nem por isso tranquilos e nunca estanques. Um acordo tácito entre almas que anseiam por expansões e plenitudes. Um anseio por estorquir algo da vida que a faça ampliar de um modo sempre novo, desnudo e desvirtualizado. 

A imagem, a textura, o tempo da água potencializa a fluidez necessária no mundo contemporâneo e inevitável, no que diz respeito à organicidade entre as variadas linguagens artísticas que hoje se encontram, confluem e se sobrepõem. Nessa perspectiva, transversalizar nesse universo pressupõe adentrar num tempo do agora, presente, perene, em permanência e vazão.
 

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