Era cedo ontem quando vi a lua cheia dum canto diferente da casa. Sempre chego tarde e a vejo bem em cima do meu quarto, alimentando-me de luz. Hoje não é dia de sair nem de ouvir o telefone tocar. É tempo de desligamentos e de preparar o coração, a mente e a alma para novos encontros, novos laços, novas estradas, novos banhos de mar.
Volto-me para a lua, daquele novo lugar. Ela, grande, cheia, deixa-me maior, enchendo-me de força e luz! Despeço-me para entrar no quarto e cuidar do que é meu. É preciso pensar em arrumar não só o quarto, mas a casa... a da alma e a do lugar que ocupa o corpo. Meu corpo às vezes se perde por aí... transita a esmo. Só depois da sacudidela ele cai em si.
Mais tarde, transponho minha força para o trabalho, a fim de fechar as portas entreabertas. Quero alimentar-me do silêncio e emergir no que for produtivo. Depois descubro o que pede minha alma. A hora não é agora... e ao mesmo tempo é sempre, toda hora.
Lá se vem a lua andando para cima do meu quarto. Já se faz tarde da noite, quase cedo da manhã. Tenho muito mais o que fazer, mas deitar os olhos no sono faz bem.
Cabeça no travesseiro, lembro que ser feliz é ter consciência da felicidade dos momentos mais inusitados, especialmente dos momentos de sabedoria e silêncio.
Silencio, então, com a luz da lua cheia de outubro, esse mergulho em mim... e durmo. Para o acordar de novos dias de consciência.