tenho deitado como quem dorme
quieta no escuro do quarto, esperando a noite trazer o sono
mil borboletas a girar cabeça em mim: a lembrança dos irmãos, a potência do amor guardado, as palavras que não desabrocham, as flores que não chegam, o vento que bate a porta, o azul do voo que não parte, o cais do porto em que não se banha...
.
tenho dormido como quem sonha
flashes a iluminar o escuro, reverberando agruras
cavalos a solapar a matilha dos passos: a impaciência com a impaciência do homem, o berro no último trago, o gole seco da sede, o abraço vão pela metade, a miragem da partida, o rasgo da última palavra corrompida, o queixume do azedume...
.
tenho acordado como quem vive
clareiam as gotas profundas no peito, co(u)raçando novos dias
pássaros a adentrar malocas no corpo: o giro eterno da infância, a dança do encontro ao acaso, o céu abarcando meus seis lados, a nuvem (branca!) que o enfeita, o bom caos da brandura, a potência da paz que faz nascer coisas belas, a estrela que surge sem nome ofuscando os laços, o movimento do amor inaugurado em instantes – voos constantes...
.
tenho vivido... e pra viver: borboleta e
ar.